quinta-feira, 26 de maio de 2011

A esperança morreu


        A esperança morreu junto com tudo o que convenientemente deveria morrer antes dela para que o ditado chulo se fizesse verdade. Nesse momento, sentar e pensar positivo é tão eficaz quanto assistir à programação de domingo pra resolver problemas de química. As vidas continuam mal vividas e as dores já estão espalhadas. Uma ansiedade corrói o peito inundando-o de angústia. A esperança morreu.
        E flutuam, pairando atônitos pelos ares vermelhos das cidades. E se queixam, sem propósito, da solidão que os acompanha intimamente, todas as horas do dia. Cantam-se os cantos tortos e os acasos todos estacionaram. Foram vendidos os sonhos. A esperança morreu.
        Os dias continuam estranhos, a poeira continua embaixo do tapete. E morreram o reconhecimento e os bons motivos.  Já devemos nos preocupar mais com o colesterol do que com os planos de melhorar o mundo. Já podemos maquiar nossos rostos e corações. A esperança morreu.
        Hoje as criancinhas ainda morrem de inanição em vários pontos do país. E o planeta grita as verdades inconvenientes que nossos filhos não mais verão.  E jovens adoecem diariamente ante a ferrugem dos sorrisos tortos, enquanto os dias ainda amanhecem sempre iguais.  O encanto morreu de desgosto em algum bar lânguido da cidade entre um comentário infeliz de uma pessoa que passa e mais uma garrafa de bebida.  As mentiras sinceras deixaram de ser interessantes e ainda morrem alguns na contramão, atrapalhando o tráfego.
        A esperança morreu e deixou as contas de água, luz e telefone. Morreu de desgosto, morreu de descaso.  As lembranças continuam no espelho, mas não dá mais pra sobreviver à hora da verdade. Hoje, nem a coragem, na falta de algo melhor. Então continuemos aumentando como insetos em busca de uma lâmpada quente. A esperança morreu.
        Deixo pra amanhã os planos pra mudar o mundo. Deixo pra amanhã a preocupação com a reprodução das baleias brancas em extinção. Deixo pra quem quiser, as desculpas pra inventar. Hoje a luz não ilumina as mini certezas. Cantemos a nossa desgraça nos quatro cantos da cidade, o resto fica pra amanhã porque, hoje, a esperança morreu.

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