sábado, 28 de maio de 2011

"Preciso e gosto de intensidade, mesmo que ela seja ilusória e se não for assim, prefiro que não seja. Não me apetece viver histórias medíocres, paixões não correspondidas e pessoas água com açúcar. Não sei brincar e ser café com leite. Só quero na minha vida gente que transpire adrenalina de alguma forma, que tenha coragem suficiente pra me dizer o que sente antes, durante e depois ou que invente boas estórias caso não possa vivê-las. Porque eu acho sempre muitas coisas - porque tenho uma mente fértil e delirante - e porque posso achar errado - e ter que me desculpar - e detesto pedir desculpas embora o faça sem dificuldade se me provarem que eu estraguei tudo achando o que não devia. Quero grandes histórias e estórias; quero o amor e o ódio; quero o mais, o demais ou o nada. Não me importa o que é de verdade ou o que é mentira, mas tem que me convencer, extrair o máximo do meu prazer e me fazer crêr que é para sempre quando eu digo convicto que "nada é para sempre."


Gabriel García Marquez

quinta-feira, 26 de maio de 2011

A esperança morreu


        A esperança morreu junto com tudo o que convenientemente deveria morrer antes dela para que o ditado chulo se fizesse verdade. Nesse momento, sentar e pensar positivo é tão eficaz quanto assistir à programação de domingo pra resolver problemas de química. As vidas continuam mal vividas e as dores já estão espalhadas. Uma ansiedade corrói o peito inundando-o de angústia. A esperança morreu.
        E flutuam, pairando atônitos pelos ares vermelhos das cidades. E se queixam, sem propósito, da solidão que os acompanha intimamente, todas as horas do dia. Cantam-se os cantos tortos e os acasos todos estacionaram. Foram vendidos os sonhos. A esperança morreu.
        Os dias continuam estranhos, a poeira continua embaixo do tapete. E morreram o reconhecimento e os bons motivos.  Já devemos nos preocupar mais com o colesterol do que com os planos de melhorar o mundo. Já podemos maquiar nossos rostos e corações. A esperança morreu.
        Hoje as criancinhas ainda morrem de inanição em vários pontos do país. E o planeta grita as verdades inconvenientes que nossos filhos não mais verão.  E jovens adoecem diariamente ante a ferrugem dos sorrisos tortos, enquanto os dias ainda amanhecem sempre iguais.  O encanto morreu de desgosto em algum bar lânguido da cidade entre um comentário infeliz de uma pessoa que passa e mais uma garrafa de bebida.  As mentiras sinceras deixaram de ser interessantes e ainda morrem alguns na contramão, atrapalhando o tráfego.
        A esperança morreu e deixou as contas de água, luz e telefone. Morreu de desgosto, morreu de descaso.  As lembranças continuam no espelho, mas não dá mais pra sobreviver à hora da verdade. Hoje, nem a coragem, na falta de algo melhor. Então continuemos aumentando como insetos em busca de uma lâmpada quente. A esperança morreu.
        Deixo pra amanhã os planos pra mudar o mundo. Deixo pra amanhã a preocupação com a reprodução das baleias brancas em extinção. Deixo pra quem quiser, as desculpas pra inventar. Hoje a luz não ilumina as mini certezas. Cantemos a nossa desgraça nos quatro cantos da cidade, o resto fica pra amanhã porque, hoje, a esperança morreu.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Por hoje


       Hoje ela acordou e não sentiu a preguiça características de todas as manhãs apesar das normais poucas horas de sono que se tinham sido cumpridas sem rigor. E acordou serena. Hoje ela não se importou com os escândalos políticos da televisão e sorriu com a propaganda do refrigerante estrangeiro.
        Hoje ela não organizou o tempo e, no entanto, percebeu que tinha tempo pra tudo. Então, hoje ela leu o livro velho que havia sido encostado, em virtude dos afazeres mais importantes, e a esperava abandonado naquele mesmo lugar.  E não se preocupou com a ligação que não fez, com a satisfação que não deu. Olhou fotos antigas, riu delas.
        Hoje ela sentiu o sol e trocou a posição dos móveis. Escreveu cartas que nunca serão enviadas, mas ela espera respostas, mesmo assim.  Hoje ela aprendeu uma palavra diferente e ficou pensando em que circunstância usar. E programou uma viagem, e desprogramou em seguida. Lembrou dos amigos distantes que ainda estão lá e lembrou o cheiro bom da sua casa de infância. Hoje ela não pensou nos seus erros e nas suas falhas e, não se puniu por isso.
        Hoje ela parou pra perceber a fugacidade do tempo e a efemeridade das coisas e se sentiu pequena diante de tudo. Hoje ela recebeu um elogio e se sentiu bonita. Hoje ela fez a mesma rotina de todos os outros e porque prestava atenção nas pequenas coisas foi diferente de sempre. Porque hoje ela usou da felicidade como um estado de espírito e não como um status permanente. Se era feliz? Sim, hoje era.

domingo, 15 de maio de 2011

Não era amor

         Não, aquilo não era amor.  Era um abraço quente em uma tarde fria, era uma boa música no som do carro, era uma saudade gostosa diante de uma viagem inesperada, era a morte premeditada da saudade no fim de semana próximo, era um sorvete de bombom, era um convite pra jantar. Não era amor...
       
         Era andar enlaçado pela cintura, era uma ligação de madrugada, era a briga no começo da noite, era a reconciliação no final. Era o filme da tarde, era uma mensagem boba, era mais um mês terminado, outro começado, era a censura do vestido curto, era um beijo roubado. Não era amor...
        Eram dois celulares desligados, era fervura, era a primeira, era a última, eram as fotos, eram os fatos, era a despedida, eram as cócegas, era o inabalável, era o elogio, era a espera, era o encontro, era a dúvida, era a necessidade, era o cotidiano, era o projeto da casa, era o acaso, era o propósito. Mas amor... Amor não era.
        Era a fuga, era um ciúme torto, era uma risada gostosa, era um segredo no ouvido, era a memória, era um esforço pra esquecer, era a vontade de lembrar, era o fim, era o começo, era a promessa, era um ensaio, era o desgasto, era a espera, era a distância, era mais um, era a idéia. Não... Amor, não.
        Era o descanso, era surpresa, era o desejo, era nada, era falta, era romance, era cinema, era o talvez, era o querer, era ternura, era pele, era colo, era mistério, era o mundo inteiro, era tragédia, era fingimento, era realidade, era adeus, era verdade, era brigadeiro de panela, era a dor, era o bem. Não era amor...
Era melhor.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Só pra discordar


          Você diz que é insegurança e eu discordo completamente. Mas discordo só pra não concordar, no fundo eu também sei que é sim uma insegurança por não ter previsão. Logo eu, que era acostumada a caminhar olhando o terreno longe, sabendo onde ia chegar. Eu que conheço e mapeio tudo, eu que faço planos pra fazer planos não consegui conter a verdadeira insegurança de não saber.
         Todas as novidades são bonitas e superiormente interessantes. Não foi diferente com você. Mas as novidades geralmente não trazem um manual de instruções e me assusta ter que passar por elas de olhos fechados. Você é uma confusão que liquidifica toda e qualquer idéia em processo de formação. Você fica quando eu espero que vá e beija a minha testa quando eu espero te ver com raiva. E faz planos pra daqui a pouco, mas o momento de agora grita, então, você prefere entrar de cara. Eu fico atônita, mas seguro a sua mão e vou com você.
         Você pergunta se eu to gostando tanto assim e eu discordo só pra não concordar. Você sabe. E me abraça quando eu sinto frio. Você é uma contradição e, eu não sei se tô nessa por teimosia ou ainda levito na sua leveza e brevidade de tratar as coisas como se elas fossem realmente simples. E ri quando eu discordo disso, mas dessa vez eu discordo mesmo.
         Então você fica e nessa altura eu prefiro que fique mesmo. E que fique assim, desse seu jeito sem regras, sem métodos, sem planos, sem data... Hoje eu só quero que fique.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Um amor pra dois

     
         Garçom, por favor, um amor pra dois. Quente e expresso. Saindo agora, novinho. Um amor com direito a mãos dadas, beijo no nariz, cena de ciúme, espera no portão. Um amor sereno, que caiba no sofá da sala e no filme com chocolate. Um amor pra chuva. Um amor pra curtir o frio. Um amor cotidiano e intravenoso, sem tédio, sem jeito...Um amor manso, das tardes de domingo. Um amor agitado pras noites de sábado. Um amor de massagem em pezinhos pequenos, de discussões em horas vazias, de reconciliações nos momentos cheios. Um amor sem tempo, sem fronteira. Um amor pras segundas-feiras. Um amor sem silêncio, de pensamento.
Garçom, mas vê se traz logo, pra não passar do ponto...

domingo, 1 de maio de 2011

Pra ela



Minha favorita,
        Você foi de forma tão prematura e me deixou com tanta saudade que às vezes chega a parecer dor. Não é. Você é tão viva aqui dentro e, hoje, muito mais presente que em qualquer outra situação. Hoje eu levanto a cabeça e olho fixo a linha do horizonte. Tranquilamente. Penso nos nossos sonhos, nos nossos planos com a certeza de que eles serão realizados. Agora você me olha e eu te sinto.  Às vezes me dizem que você está em outro e melhor lugar. Eu prefiro pensar que se eu sou capaz de ter você tão forte no peito, esse lugar é aqui.
        “Não sei por que você se foi. Tantas saudades eu senti. E de tristeza vou viver, e aquele adeus, não pude dar. Você marcou na minha vida, viveu, morreu na minha história. Chego a ter medo do futuro e da solidão que em minha porta bate. E eu gostava tanto de você...”