quarta-feira, 27 de abril de 2011

Valsa


        Ela pegou o primeiro bonde depois das cinco da tarde. E vinha tranqüila como em qualquer outro dia. Quando ele entrou no mesmo bonde. Quem era? Não conhecia. Era bonito. Melhor, era bonito e a olhava. Olhava-a de uma maneira sutil que a deixava sem jeito. Ela tentava se esconder atrás da franja dourada. Talvez fosse impressão... Não era.
        Era ela o foco do zoom daquele olhar bonito. Era ela e a sua insegurança o que havia de mais superior e interessante naquela hora. Era ela. Riu timidamente e foi terrivelmente traída pelo rubor febril das faces que denunciavam seu estado de vergonha e êxtase. Agora ela já não pensava nos problemas, planos ou em qualquer outra coisa que subira no bonde com ela. Fez-se desarmada.
        Era incrível como aquilo a possuía de uma maneira completa. Como ela parecia ter perdido os sentidos. Ele continuava olhando. Ela gostava daquilo. Pensou em falar com ele, perguntar-lhe  o nome. Não o fez.
        Passaram alguns minutos e ele desceu duas paradas à frente.  Ela continuava em deslumbre e nem percebera que muito provavelmente não mais o veria. Não importava. Desceu na sua parada e a noite seguiu em paz.

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